O Craque do Grupo E - Francesco Totti

Numa selecção italiana nunca faltam craques para destacar. Nem sempre pelas suas qualidades futebolisticas. Mas aqui tratamos de futebol e Alessandro del Piero, Fabio Cannavaro, Gianluigi Buffon e Fillipo Inzaghi seriam craques em qualquer selecção. Mas em Itália o rei é Francesco Totti. E neste grupo a concorrência mais directa vem do checo Pavel Nedved.



Francesco Totti nasceu a 27 de Setembro de 1976, em Roma, no bairro Appio Latino, junto à Porta Metronia, não muito longe do ícone Coliseu, daí que seja também conhecido como “Il ragazzo di Porta Metronia”.
A identificação de Totti com Roma e com os romanos é total. Tem uma forte pronúncia romana (e por isso, e muito mais, é gozado). Desde pequeno que apoiava a AsRoma, fosse da bancada a ver o clube jogar ou como apanha bolas.
Na AsRoma passou pelas camadas jovens, onde chegou em 1989, e viria a estrear-se profissionalmente na 1.ª divisão italiana em 1993, com apenas 16 anos.
Tem-se mantido fiel ao clube romano, apesar das insistentes notícias de final de época que o ligam a outros poderosos clubes do continente europeu.

Na Roma alcançou apenas por uma vez o título de campeão italiano, em 2000/2001, o primeiro do clube desde 1983. Considerado o melhor jogador italiano em 2000 e 2003, a verdade é que com a Roma Totti não conseguiu (e não conseguirá?) engrandecer o seu palmarés. O fantasista Totti poderia juntar-se a qualquer clube. Dos maiores. Ao invés, prefere continuar a jogar no clube de que é adepto desde sempre, na sua cidade, amado por todos os que o rodeiam, revivendo o espírito dos antigos gladiadores (tem um tatuado no braço) romanos da Idade Média em que Roma era um Império. Sobre esta opção Totti afirmou “Sou um romano e romanista. É um estado de alma”. E quanto aos seus colegas de selecção italiana, diz-lhes: “Vocês são vocês mas eu venho de Roma”.
Totti não só é idolatrado dentro do estádio, no relvado, como fora dele. Conta-se que um casal romano se divorciou depois que o marido se recusou a retirar o retrato de Totti por cima da cama do casal, onde anteriormente estava uma imagem de Jesus Cristo na cruz. Verdade ou mentira, Totti não é só amado pelos homens. Também as mulheres o admiram e veneram.
Ou seja, com toda esta idolatria e todo este amor por uma cidade e por um clube, porquê mudar?
Todavia, há antes quem veja nisto uma falta de ambição por parte do jogador. E prefira lembrar que Totti sempre costuma falhar nos momentos decisivos. Que lhe falta algum profissionalismo e que tem mau feitio.
Só para citar alguns exemplos, com a selecção italiana, onde se estreou em 1998, Totti viveu momentos desapontantes. No mundial de 2002, a Itália jogava os 8.ºs de final com a Coreia, equipa da casa. Totti viria a ser expulso, por acumulação de cartões, por se “atirar para a piscina” dentro da área (Totti foi criticado, mas a decisão do árbitro também a foi).
Já no Euro 2004, em Portugal, logo no 1.º jogo Totti resolveu cuspir num colega da Dinamarca. Foi imediatamente suspenso com não sei quantos jogos, os suficientes para o privarem de jogar mais no torneio, a não ser que a Itália chegasse pelo menos às meias-finais. Não chegou e Totti não mais jogou. O fiasco deu-lhes para serem corridos logo na 1.ª fase de grupos.
Pelo contrário, no Euro 2000, o outro (e primeiro) grande torneio em que Totti esteve presente, portou-se bem, jogou bem, conquistou toda a gente. Ajudou a levar a Itália até à final, onde viria a perder com a campeã França.
Aí a sua fama havia começado a crescer. O atacante fantasista, capaz de criar e de marcar golos, seja de bola corrida seja através de livres, que pode jogar em praticamente todas as posições no ataque.
Mas todas aquelas desditas com a selecção, e a falta de títulos com o seu clube, não fizeram baixar as expectativas e o furor sobre Totti. Quando se lesionou gravemente em Fevereiro deste ano, com possibilidade de não recuperar a tempo para jogar no mundial, quase toda a Itália ficou preocupada. Incluindo o 1.º ministro e presidente do rival AcMilan, Silvio Berlusconi, que o foi visitar após a operação e lhe desejou as rápidas melhoras para que voltasse a estar presente o mais breve possível na selecção italiana.
Até que, para descanso de todos os tiffosi, em Maio último Totti voltou a jogar pela sua Roma para o campeonato e parece estar recuperado da lesão e pronto a liderar o ataque italiano.

Na sua vida para além do futebol, dizem que Totti é burrinho. Mas parece que conseguiu conquistar uma das celebridades mais bonitas de Itália, Ilary Blasi, apresentadora da RAI. No princípio deste ano o casalinho teve o seu primeiro filho e Totti fez questão de o anunciar a todo o mundo com a sua comemoração original.

À conta da sua apregoada burrice, Totti tornou-se embaixador da “Boa Vontade” da Unicef. A história é a seguinte: alguém quis aproveitar a sua totozice e ganhou a sua autorização para publicação de um livro com anedotas sobre si. A única exigência de Totti foi que as anedotas fossem exclusivamente sobre ele e não sobre a sua família e que todo o dinheiro alcançado com as vendas do livro fosse aplicado em projectos de ajuda às crianças carenciadas de Roma e em projectos da Unicef para crianças sem tecto na República Democrática do Congo. Foi um dos livros mais vendidos em Itália, em 2003, com várias re-edições. A Unicef escolheu-o como uma das suas caras. Com esta caridade, bem no espírito da tradição católica-romana, a sua popularidade só aumentou. Um sucesso esta falta de inteligência do romano.
Como escreveu um jornalista do Observer inglês: “A popularidade de Totti não tem nada que ver com ganhar títulos”.
Quer isto dizer que está dispensado de fazer com que a Itália ganhe o seu 4.º título mundial, 24 anos depois?