Futebol é Para Meninas

O Blogue de Todos os Desportos

quinta-feira, julho 20, 2006

Os Últimos Anos e Scolari

Depois do México 86, Portugal voltou às grandes competições do futebol no Euro 96. Aí encantou os ingleses e o mundo com o seu futebol técnico, de ataque e bem jogado, passou a 1.ª fase e perdeu com aquele golo de chapelada checa a Baia nos 4.ºs de final. Isto foi com António Oliveira, que mandava os jogadores correrem para tascar um beijo na bandeira depois de marcarem um golo.
Depois veio o falhanço da não qualificação para o Mundial de 98.
Este trauma, se é que o foi numa época em que nada de especial alcançávamos no futebol, foi logo superado com a chegada às ½ finais no Euro 2000. Mais uma vez fomos das equipas que apresentaram melhor futebol, mas fomos corridos a achar que nos tinham roubado com aquele penálti do louro Xavier e, por isso, reagimos como verdadeiros pais de família, aos encontrões e apertões a todos aqueles que não nos queriam bem. O resultado foi umas suspensõeszitas de uns quantos mesitos a uns quantos jogadores.
Seguiu-se o fiasco dos alhos no Mundial de 2002, acidente de percurso com o coxo Oliverinha.
Depois veio o salvador Scolari com a sua Santa do Caravaggio e com o milagre de apenas perder (2x) com a Grécia na final do Euro 2004 jogado em casa.
Agora o Mundial de 2006 e o 4.º lugar na Alemanha.

Dizem que os resultados e o amor à bandeira só apareceram com o sargentão.
Não creio que seja assim. Desde 1996, com a excepção do mundial de 2002 na Coreia, que Portugal vinha crescendo no que diz respeito a resultados no futebol sénior. E no tocante a amor pela selecção, já Carlos Queirós nos tinha feito olhar para ela e para os seus meninos de ouro, e com ele começamos a encher os estádios para ver Portugal e não apenas Benfica, Sporting e Porto. O Oliveira deu continuidade a isso e começou por introduzir aquela ideia popularucha da pátria e da bandeira (quem não se lembra de ver Sá Pinto a correr apressado para o beijinho à bandeira depois de marcar o 1.º golo português no Euro 96?).
Scolari mais não fez do que aproveitar o que outros já vinham fazendo, apanhando a boleia da euforia e disponibilidade dos portugueses para um torneio que seria jogado na sua terra. Depois, os amigos da comunicação social e da política fizeram o resto (ai a comunicação social portuguesa, tão critica numas situações e tão acritica noutras...). O que me parece é que nunca um seleccionador teve tantas condições para dirigir uma selecção portuguesa. Condições financeiras excepcionais à cabeça, mas também condições logísticas e de meios humanos. Ricarco Carvalho, Maniche, Luís Figo, Deco e Cristiano Ronaldo, ou seja, praticamente meia equipa, teriam lugar quase em qualquer equipa / selecção.

Quer isto dizer que não há nenhum mérito de Luiz Felipe Scolari no comando do futebol português? Claro que há. Os resultados falam por si. A disciplina também fala por si. Assim como fala por si o decréscimo da qualidade do futebol que temos vindo a praticar a nível de selecção (onde é que foram buscar a ideia de que Portugal foi a equipa mais excitante deste mundial?).
Apesar de não gostar de Scolari, parece-me bem a sua continuidade. Ao contrário do que dizem alguns analistas, o grupo que tocou a Portugal para a qualificação do Euro 2008 não será assim tão favas contadas. Estarão presentes Polónia e Sérvia (que estiveram no mundial) e Bélgica (ainda que com resultados inexpressivos nos últimos anos, é muito mais assidua do que Portugal em fases finais, quer de europeus quer de mundiais), para além de Finlândia, Arménia, Azerbaijão e Cazaquistão. Passam apenas os 2 primeiros.
E ao contrário do que dizem também alguns, não creio que Scolari já tenha provado tudo o que vale. Não será fácil renovar a equipa, marcar presença no próximo europeu e superar as últimas classificações. Mas ao aceitar ficar em Portugal, Felipão mostra que ao lado da vida mansa aceita também desafios. Só por isso me proponho a levar com mais doses de Roberto Leal e bandeirinhas do Bes (a este propósito, onde estão os defensores da pátria iluminados e políticos – entre os quais um constitucionalista – que cegamente fazem lobby por Scolari mas não aparecem para explicar à populaça a ilegalidade de se associar uma marca a um símbolo nacional?).