A Crise é para todos
A notícia parece ter deixado pelo menos parte do futebol profissional português em choque, mesmo se o “regime transitório” que iria levar ao fim do regime especial de tributação dos seus rendimentos já tivesse prazo para acabar – em 2007 – há uns quantos anos. A partir de agora os futebolistas passarão a pagar IRS sobre a totalidade dos seus rendimentos, e não sobre 60%, como acontecia até à data.
O estranho da coisa – dúvida que ainda não consegui ver desfeita – é que se fala apenas nos jogadores profissionais de futebol e o regime especial abrangerá todos os desportistas que auferem rendimentos enquanto tais. E escrevo estranho porque dos desportistas para além do futebol ainda não se ouviu uma palavra (das duas uma: ou nunca estiveram abrangidos pelo tal regime especial – o que seria injusto – ou estando-o irão continuar a dele beneficiar – o que é injusto).
Passando adiante.
Nos últimos tempos tem vindo a ouvir-se falar num sem número de regimes especiais de tributação e de sub-sistemas relativos à segurança social. Chegou-se à conclusão que não eram só os estivadores e os deputados que tinham melhores condições no que tocava às suas obrigações para com o Estado.
Aceito sem problema que existem profissões de desgaste mais rápido do que outras (fisicamente os estivadores; de dedicação extrema a tirar o país d lama os deputados). Acontece que permanecendo os futebolistas (e, por maioria de razão, os desportistas) nestes esquemas quando o país enfrenta uma crise e, logo, corrida à cobrança de impostos, seria apenas prolongar a injustiça face a todos os outros cidadãos trabalhadores que muitas das vezes têm empregos sub-humanos, quando os têm.
Em termos abstractos, profissões de desgaste rápido não faltam por aí, sem que no entanto os seus profissionais tenham a “sorte” de as mesmas serem reconhecidas como tal.
Quanto ao argumento de que a maioria dos futebolistas não ganha assim tão bem, cumpre apenas dizer que o português médio ganha ainda pior. Partindo do princípio (que não sei se está correcto, uma vez que no mundo do futebol os salários são segredo de Estado, cortesia dos clubes e seus atletas) de que os jogadores da I e II Ligas não ganharão menos de 2500 Euros e terão uma carreira média de cerca de 10 anos; e partindo ainda do princípio de que um português com a escolaridade mínima obrigatória não ganhará mais do que 750 Euros (e já não será nada mau) e terá uma carreira contributiva de cerca de 40 anos; facilmente se chega à conclusão de que os seus rendimentos face ao tempo de carreira não andaram muito longe uns dos outros.
Nem vale a pena aqui falar de que para além do salário dos jogadores de futebol estes complementam-no, as mais das vezes, com prémios de jogo e patrocínios. Pois! Os outros trabalhadores também poderão complementar o seu magro salário acumulando empregos. Isto se tiverem tempo para fazer mais alguma coisa para além das 38 horas semanais de trabalho. Já os jogadores profissionais não têm tempo para mais nada, pois são obrigados a descansar após o desgaste físico dos jogos e treinos diários (aqui a sua vidinha é um pouco diferente do pessoal do atletismo, natação, triatlo, etc., que após os treinos bi-diários ou até tri-diários não tem sequer tempo para o descanso).
No que diz respeito às II e III divisões, e desconhecendo novamente o seu salário, acredito que ganhem o mesmo que nas outras profissões “médias”. No entanto, desconheço igualmente se a sua dedicação à modalidade é exclusiva, não deixando espaço para acumular qualquer outra actividade.
Quanto ao desemprego que assola o futebol… essa deve ser para gozar com todos nós. Seria bom sinal que isso fosse exclusivo do futebol.
Por fim (ou não, uma vez que os argumentos poderão ser infindáveis), a questão de que o jogador de futebol não tem oportunidade de estudar e, assim, se preparar convenientemente para quando deixar a modalidade. Felizmente que o nível cultural e de ambição extra-futebol destes jovens foi crescendo e hoje a célebre tirada proferida por João Rocha sobre a sua incapacidade para comer de faca e garfo será apenas mito. Não é preciso ir buscar o caso de alguns atletas que aproveitaram a oportunidade de ter passado pela Académica de Coimbra. Li há pouco que Abel, o defesa direito do Sporting, possui uma licenciatura em Desporto. Como o terá conseguido? Exemplos como este existem bem mais do que agora nos querem fazer crer. Mesmo João Moutinho, que ao contrário de Abel passou a sua adolescência nas selecções, fez questão de seguir estudando bem para além do comum 9.º ano.
E que dizer de outros desportistas de alta competição, continuando com os exemplos do atletismo e da natação, que conseguem entrar para a faculdade mesmo se estão constantemente em treinos, provas, estágios, no estrangeiro?
Já nem quero falar na maior visibilidade que os futebolistas alcançam, seja no primo divisionário Sporting ou no Pescadores da Costa da Caparica, e que lhes permitirá mais facilmente prosseguir a sua vida para além do futebol, ou mesmo noutras actividades ligadas ao futebol.
Enfim, no meio disto tudo o que acho mais normal é mesmo o facto do presidente do sindicato dos jogadores vir publicamente defender os seus. Outra coisa não se poderia esperar. Todavia, tal não invalida que todos os outros contribuintes se sintam, no mínimo, desconfortáveis perante a defesa de privilégios que lhes parecem deslocados, excessivos, discriminatórios e desiguais.
O estranho da coisa – dúvida que ainda não consegui ver desfeita – é que se fala apenas nos jogadores profissionais de futebol e o regime especial abrangerá todos os desportistas que auferem rendimentos enquanto tais. E escrevo estranho porque dos desportistas para além do futebol ainda não se ouviu uma palavra (das duas uma: ou nunca estiveram abrangidos pelo tal regime especial – o que seria injusto – ou estando-o irão continuar a dele beneficiar – o que é injusto).
Passando adiante.
Nos últimos tempos tem vindo a ouvir-se falar num sem número de regimes especiais de tributação e de sub-sistemas relativos à segurança social. Chegou-se à conclusão que não eram só os estivadores e os deputados que tinham melhores condições no que tocava às suas obrigações para com o Estado.
Aceito sem problema que existem profissões de desgaste mais rápido do que outras (fisicamente os estivadores; de dedicação extrema a tirar o país d lama os deputados). Acontece que permanecendo os futebolistas (e, por maioria de razão, os desportistas) nestes esquemas quando o país enfrenta uma crise e, logo, corrida à cobrança de impostos, seria apenas prolongar a injustiça face a todos os outros cidadãos trabalhadores que muitas das vezes têm empregos sub-humanos, quando os têm.
Em termos abstractos, profissões de desgaste rápido não faltam por aí, sem que no entanto os seus profissionais tenham a “sorte” de as mesmas serem reconhecidas como tal.
Quanto ao argumento de que a maioria dos futebolistas não ganha assim tão bem, cumpre apenas dizer que o português médio ganha ainda pior. Partindo do princípio (que não sei se está correcto, uma vez que no mundo do futebol os salários são segredo de Estado, cortesia dos clubes e seus atletas) de que os jogadores da I e II Ligas não ganharão menos de 2500 Euros e terão uma carreira média de cerca de 10 anos; e partindo ainda do princípio de que um português com a escolaridade mínima obrigatória não ganhará mais do que 750 Euros (e já não será nada mau) e terá uma carreira contributiva de cerca de 40 anos; facilmente se chega à conclusão de que os seus rendimentos face ao tempo de carreira não andaram muito longe uns dos outros.
Nem vale a pena aqui falar de que para além do salário dos jogadores de futebol estes complementam-no, as mais das vezes, com prémios de jogo e patrocínios. Pois! Os outros trabalhadores também poderão complementar o seu magro salário acumulando empregos. Isto se tiverem tempo para fazer mais alguma coisa para além das 38 horas semanais de trabalho. Já os jogadores profissionais não têm tempo para mais nada, pois são obrigados a descansar após o desgaste físico dos jogos e treinos diários (aqui a sua vidinha é um pouco diferente do pessoal do atletismo, natação, triatlo, etc., que após os treinos bi-diários ou até tri-diários não tem sequer tempo para o descanso).
No que diz respeito às II e III divisões, e desconhecendo novamente o seu salário, acredito que ganhem o mesmo que nas outras profissões “médias”. No entanto, desconheço igualmente se a sua dedicação à modalidade é exclusiva, não deixando espaço para acumular qualquer outra actividade.
Quanto ao desemprego que assola o futebol… essa deve ser para gozar com todos nós. Seria bom sinal que isso fosse exclusivo do futebol.
Por fim (ou não, uma vez que os argumentos poderão ser infindáveis), a questão de que o jogador de futebol não tem oportunidade de estudar e, assim, se preparar convenientemente para quando deixar a modalidade. Felizmente que o nível cultural e de ambição extra-futebol destes jovens foi crescendo e hoje a célebre tirada proferida por João Rocha sobre a sua incapacidade para comer de faca e garfo será apenas mito. Não é preciso ir buscar o caso de alguns atletas que aproveitaram a oportunidade de ter passado pela Académica de Coimbra. Li há pouco que Abel, o defesa direito do Sporting, possui uma licenciatura em Desporto. Como o terá conseguido? Exemplos como este existem bem mais do que agora nos querem fazer crer. Mesmo João Moutinho, que ao contrário de Abel passou a sua adolescência nas selecções, fez questão de seguir estudando bem para além do comum 9.º ano.
E que dizer de outros desportistas de alta competição, continuando com os exemplos do atletismo e da natação, que conseguem entrar para a faculdade mesmo se estão constantemente em treinos, provas, estágios, no estrangeiro?
Já nem quero falar na maior visibilidade que os futebolistas alcançam, seja no primo divisionário Sporting ou no Pescadores da Costa da Caparica, e que lhes permitirá mais facilmente prosseguir a sua vida para além do futebol, ou mesmo noutras actividades ligadas ao futebol.
Enfim, no meio disto tudo o que acho mais normal é mesmo o facto do presidente do sindicato dos jogadores vir publicamente defender os seus. Outra coisa não se poderia esperar. Todavia, tal não invalida que todos os outros contribuintes se sintam, no mínimo, desconfortáveis perante a defesa de privilégios que lhes parecem deslocados, excessivos, discriminatórios e desiguais.
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