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O Blogue de Todos os Desportos

terça-feira, julho 12, 2005

JO

Como é óbvio, um dos acontecimentos mais relevantes dos últimos dias foi a atribuição dos Jogos Olímpicos de 2012 à cidade de Londres. Ainda mal refeitos dos JO do ano passado em Atenas, em acelerada preparação para os de Pequim em 2008, o COI não nos fez esperar muito para sabermos que Londres seria a vencedora do maior evento desportivo do universo. Surpreendente? Talvez sim.
Paris parecia levar vantagem, pelos apoios recolhidos, pelo empenhamento dos poderes públicos, por toda a cidade se via publicidade de apoio à candidatura sob o signo de "L´Amour des Jeux". Na impossibilidade de Paris vir a realizar os JO nos anos mais próximos, ficam porém aquelas imagens belíssimas que transformaram, no mês passado, os Champs Elysées num mini estádio olímpico, com a recriação dos vários desportos do evento.
De Madrid, por seu lado, dizia-se que tinha o maior apoio entre os seus habitantes, o que não foi, no entanto, suficiente. Em termos pessoais esta seria a melhor escolha e as meras 6 horas de distância de carro desde Lisboa não permitiriam qualquer desculpa para não dar lá um saltinho (a propósito, como pude deixar escapar os JO de Barcelona92?)
De Londres dizia-se precisamente o contrário: de que os seus habitantes estavam desligados do fenómeno, indiferentes ou mesmo contra esta prioridade. Nos últimos dias o forcing resultou, ou o lobby, melhor dizendo, com o primeiro ministro britânico a empenhar-se pessoalmente (tal como, aliás, os governantes dos países das cidades candidatas). Parece que terá pesado o facto de Londres ser de certa forma um símbolo do espirito olímpico, pelo multiculturalismo e cosmopolitanismo da cidade, e também pelo facto de se ter mostrado disponível para aceitar a organização dos JO em duas ocasiões anteriormente particularmente difíceis (1908 e 1948).
Para aqueles que entendem que existe mais do que fazer do que organizar uns JO, e sem discutir prioridades que sem dúvida estarão à frente deste evento, não se pode questionar a mais valia que esta realidade traz para uma cidade, nomeadamente a nível urbanístico. Ainda que possam existir casos de insucesso na organização de JO, como parece que foi o caso de Atlanta96, ninguém esquece o que os JO de Barcelona, em 1992, representaram para a cidade, com a reconversão de toda uma zona que é hoje um ex-libris da capital catalã. Aliás, só a simples candidatura já possibilita uma série de benefícios, quanto mais não seja o acto de pensar e de planear a cidade, não só em termos de equipamentos desportivos, como também de todas as infra-estruturas necessárias a um correcto ordenamento da cidade.
Por isso, e apesar de não conseguir conter um sorriso sempre que umas alminhas lançam para o ar a ideia de uma candidatura de Lisboa, porque não? Quanto mais não seja para se chegar à conclusão de que se construiram por volta de 2002 dois estádios na capital que não serviriam para mais do que acolher provas de futebol em JO - isto se esta modalidade menor em termos olímpicos conseguir resistir muito mais anos.
Daí a pergunta: se tivéssemos pensado a longo prazo e com objectivos desportivos bem definidos, seria possível que nos dias de hoje Lisboa carecesse ainda de tantos equipamentos desportivos?
(exemplos telegráficos: estádio com pista de atletismo, pista de atletismo coberta sem ser encaixotada num qualquer armazém da capital, velódromo, pista de remo... E pensar que o Pavilhão Atlântico só deu às caras há recentíssimos 6 anos e tem vindo a tentar disfarçar as inúmeras carências...).